Ainda não era noite, e Thomas passava junto à multidão de carros. Muito aperto, um reboliço total. Todos imitavam o trabalho executado pelas das formigas por todo um ano.
Ao parar no sinal, por alguns instantes, pôde observar, de perto, uma família grande. Todavia, não era isso que atraia seus olhares e admiração. As três meninas junto do pai e da mãe que segurava o bebê rente ao peito. Passavam o tempo esperando sossegadamente pelo momento tão aguardado: o primeiro dia do ano seguinte. Sentados sobre um imenso lençol azul com flores esbranquiçadas, em frente ao portão de sua casa, riam e trocavam afetos, como se mais ninguém, além deles, estivesse olhando.
Como se atreviam? Se em tempos como aqueles, permanecer atrás de muros não era garantia de segurança, o que se diria sobre estar fora dos resguardos da casa?!
Por ser véspera de Ano Novo, criam eles em uma súbita mudança nas pessoas? Passariam elas apenas a sorrir? Deixariam algumas de roubar, matar? Juntar-se-iam para comungar da mesma felicidade?
Thomas sentia vontade de fazer o mesmo, unir-se àquelas pessoas. Entretanto, para não parecer insano, conteve-se.
Achava aquela família que tudo estava transformado? Ano Novo, vida nova?
Sabia Thomas que o Novo deveria ser construído e que, subitamente, poucas são as mudanças positivas que podem afetar um indivíduo.
Reconstrução...
É de vital importância o primeiro passo. Do contrário, nunca mais serão vistos (não apenas em frente ao portão de casa) lençóis, famílias e felicidade. Menos ainda, flores brancas.
"Só há um tempo em que é fundamental despertar. Esse tempo é agora."
Buda