Solitude

    Lá estava ela, uma jovem senhora, sentada no banco, sozinha. O banco pálido do jardim de sua imensa casa servia de assento paar suas reflexões em meio a devaneios. Devaneios de todos os dias, todas as tardes. A mulher, sozinha, na presença de sua companheira de estimação, não muito chamava a atenção das outras almas que trafegavam pela rua. Apenas bons olhos se sentir seriam capazes de perceber a lamentável situação enfrentada todos os dias.
 
    Seria o pôr do sol a conceder aquele clima reflexivo? Ou seria solidão causa das viagens mentais?
 
    Triste. Via-se muito além daqueles olhos vazios. Aliás, a própria casca fazia questão de gritar a quem quisesse ouvir. Naquele corpo inerte havia sofrimento. A solidão poderia ser consequência desse sofrer. Contudo, essa sofreguidão também poderia ser consequência de uma solidão. Quem saberia? Nem mesmo a jovem senhora, talvez, seria capaz de mostrar com palavras.
 
    O marido era conhecido por muitos como alguém de temperamento difícil, desequilibrado. Certas vezes, tomava atitudes que beiravam a loucura. Não muito presente no lar, pouco visto em frente à casa ou na rua. Tudo isso conspirava contra a esposa. Afastava-se dela de todas as maneiras possíveis. Ausente em qualquer posição que o ponteiro do relógio estivesse.
 
    O filho, em sua juventude, mesmo estando cada vez mais apartado do ambiente caseiro devido a motivos óbvios do momento, ainda da jovem senhora fazia mãe, mesmo que em fragmentadas partes; mas mãe.
 
    Passaram-se dias após os primeiros episódios. Agora, outra hora do dia atraia aquele Espírito solitário. No almoço, os cheiros batiam asas pela atmosfera, e pessoas iam e vinham pela rua. O ar mudava, o aconchego de seres, mesmo que desonhecidos, davam um mínimo conforto ao corpo sentado no banco de madeira.
 
    Os dias correram e agora não é mais possível perceber muitas coisas. Que outro momento de um simples dia servirá de alento àquela mulher sozinha? Alguma circunstância alterará o sentido do vento que leva a sua alma? O Trio Solitário ainda acha-se no jardim, todos os dias: o apoio alvo, o bichano de estimação, e a mulher sozinha.
 
    Até o momento, a história começa e termina com um simples “Lá estava ela, uma jovem senhora, sentada no banco, sozinha.” E quem sabe, um dia, algo ou alguém possa dar a ela um final feliz...


 Prefira não estar sozinho, mesmo que a sua natureza clame por isso.