Servi-me do
delicioso bolo que acabara de sair do forno. O cheiro pairava sobre a
cozinha, logo, pela casa toda. Apressado, abri a gaveta à procura de um
garfo. Fui atrás, como sempre, dos talheres grandes, desses usados em
refeições usuais. Era minha regra de sempre.
Todos sujos.
Hesitante,
movi minha mão em direção aos garfinhos de sobremesa. Eram pequenos,
diferentes... Saíam do padrão que estava acostumado. Isso incomoda
profundamente.
Fiquei imóvel em frente à gaveta, por alguns instantes, encarando os sujeitos inusuais.
Seria
proveitoso fazer exceção à regra? Traria bons frutos? É tão estranho
alterar padrões, formas de costume... Estava tudo tão confortável, por
que mudar?
Muitas
vezes, somos colocados em situações que nos tiram do conforto, nos
fazem repensar toda nossa forma de agir, de ser. Cabe a nós acatar ou
não os pequenos avisos que a vida nos dá. Podem ser de vultosa valia
para épocas futuras, quando nos serão cobradas atitudes a altura do
problema.
Voltei ao palpável e encontrei-me naquela pose engraçadamente estúpida: eu, o bolo, os pequenos garfos e os meus pensamentos.