As pombas dominavam a estrada para encherem o papo com os grãos ali derrubados. Diverti-me como uma criança, ao passar por elas e ver a revoada sair do caminho, esbaforida. Até sorri.
Seguindo o caminho, pude ver, à distância, o mesmo rapaz que outros dias avistara. Ao lado das árvores frondosas, sua moto parada na calçada, servindo de cabide para seu capacete e camiseta. Sozinho, o skatista fazia manobras sobre quatro pequenas rodas. Rampas, obstáculos, corrida. Tudo o que se tem na vida.
Passei por ele com o pensamento comum do tipo “ele está aqui de novo?”. Logo, desocupei-me deste.
Voltando pelo mesmo caminho, minutos depois, deparei-me com a mesma cena. Contudo, dessa vez decidi ir além do corriqueiro. Um ser sozinho é sempre digno de observação. Pena, às vezes.
Num dia em que, parentes e amigos unem-se e tornam-se família para comungar e passar o resto da tarde trocando conversas, risadas, afetos, por qual motivo encontrava-se isolado o jovem?
Nesse momento, contemplei as inúmeras imagens que passavam em minha mente. Talvez mostrassem a resposta para a minha pergunta. Talvez...
Nem todos possuem parentes e amigos que trocam afetos em uma Tarde de Domingo. Pois dias deprimentes também atraem pensamentos deprimentes. E as famílias gostam de brigar... E como gostam!
Reunir-se não é sinônimo de compartilhar felicidade. Certamente (ou nem tanto) aquela Alma optou por apartar-se do provável caos familiar.
Tempos depois, perguntei a mim mesmo: “Teria sido a melhor escolha fugir?”
Permanecer e buscar a paz é conflitante, desafiador. Correr e estar com a própria companhia, evitando a balbúrdia, é fácil. Qual das duas ações optar? Bem, responder que a primeira opção é, evidentemente, a mais correta, também é fácil. Fazê-la, de maneira natural e firme, ainda parece estar fora de nosso alcance.
"Muitas coisas que parecem ser assustadoras na escuridão tornam-se acolhedoras quando libertamos nelas nossa luz."